Roberto Burle Marx - O paisagista a frente do seu tempo

Autor: Rômulo Cavalcanti Braga - Data: 13/8/2010

Sua visão futurista, sua ousadia, sua imaginação criativa e indômita e seu patriotismo o transformaram no reformulador do paisagismo brasileiro – Rômulo Cavalcanti Braga



A história do paisagismo brasileiro, a partir de 1930, está intrinsecamente ligada à obra mundialmente famosa de Roberto Burle Marx. É um dos brasileiros mais consagrados no exterior em todos os tempos. Quarto filho do alemão Wilhelm Marx com a pernambucana Cecília Burle, Roberto nasceu em São Paulo, em 1909, mas ainda nem havia ido para a escola quando a família se mudou para o Rio de Janeiro. Na casa ao pé do morro da Babilônia, perto do mar, ele começa a cuidar de seus primeiros canteiros, motivado pela mãe que cultivava um jardim de estilo europeu, e pelo pai, que assinava revistas estrangeiras de jardinagem. Aos 19 anos, viaja para a Alemanha para se aperfeiçoar como desenhista. Lá, casualmente, descobre a beleza das plantas tropicais, numa visita ao Jardim Botânico de Dahlen.


De volta ao Brasil, Burle Marx começa a cultivar colecionar e classificar plantas num jardim na encosta do morro, atrás de sua casa. Seu primeiro trabalho como paisagista é feito a pedido do arquiteto e amigo Lúcio Costa, no início dos anos 30.

Burle Marx projeta um jardim revolucionário, usando plantas tropicais e a estética da pintura abstrata. O começo é difícil. Os jardins brasileiros obedecem ao modelo europeu: predominam azaléias, camélias, magnólias e nogueiras. A elite conservadora da época estranha o estilo abstrato e tropical de Burle Marx. Mas a renovação nas artes e na arquitetura é uma tendência mundial e irresistível para o conservadorismo da época. Burle Marx torna-se adepto da escola alemã Bauhaus, com seu estilo humanista e integrador de todas as artes.

No Brasil, um grupo de jovens arquitetos, profundamente influenciados pela c orrente francesa liderada por Le Corbusier, revoluciona a arquitetura. Entre eles, Oscar Niemayer e Lúcio Costa. A moderna arquitetura brasileira usa novos materiais. Aço, vidro e concreto pedem um paisagismo renovador. A associação entre Burle Marx, Niemayer e Lúcio Costa não pára mais.

Profundo admirador e apaixonado pela flora brasileira Burle Marx, realiza incontáveis incursões por todo país a procura de exemplares raros e exóticos. Encontra nas Bromélias um sentido inovador e revolucionário para dar asas a sua imaginação criativa e indômita. Em Brasília, assinou os projetos das áreas verdes do Plano Piloto e inovou ao usar o Buriti, uma espécie de palmeira, em espaços urbanos.

Pouco a pouco, através de estudos aliados a prática, torna-se botânico autodidata, especialista em plantas tropicais. Faz de sua relação com a natureza uma prática monástica. Sua reverência a flora torna-o pioneiro na luta pela preservação do meio ambiente. Burle Marx levou para o paisagismo o ideário da arte e arquitetura modernas. Rejeitou as flores exóticas com que o país compunha seus jardins públicos e particulares e trouxe para as praças a antes desprezada vegetação nativa. Compôs jardins como quem cria obras de arte. Pensou na topografia, no meio ambiente, na arquitetura e na plasticidade para projetar jardins e praças no Brasil e em mais de vinte países.


Burle Marx foi o paisagista que descobriu a riqueza da flora nativa do Brasil. Amante da natureza, chegou a catalogar 46 novas plantas e emprestou seu nome para várias espécies. Ao criar o projeto de paisagismo da Praça dos Cristais, Burle Marx utilizou 53 tipos de plantas, muitas delas não nativas do cerrado. Algumas não se adaptaram ao clima de Brasília e não sobreviveram. Outras resistiram e estão lá até hoje. Um exemplo é o Buriti de aproximadamente 12m que se encontra no local há 38 anos.

O homem de cabelos e bigodes brancos já havia passado dos 70 anos quando decidiu coordenar uma expedição científica à Amazônia. Botânicos, arquitetos paisagistas e fotógrafos percorreram mais de 10 mil quilômetros em 53 dias de exaustiva rotina de observação, coleta de espécies, documentação, catalogação e embalagem de plantas vivas, como relata Vera Beatriz Siqueira em Burle Marx, da editora Cosac Naify.

O mesmo desbravador de florestas — que se apossou do espírito dos viajantes europeus dos séculos passados — era um paisagista que, na prancheta, desenhava projetos que ainda no papel já eram uma obra de arte. Apesar disso, “o desenho jamais determinou o destino do jardim, que o paisagista sabia ser imprevisível e instável”, como escreve Vera Siqueira.

Quando a pintora modernista Tarsila do Amaral conheceu as praças de Roberto Burle Marx (1909 / 1994), logo o chamou de Poeta dos Jardins. E, assim, sintetizou uma das grandezas do paisagista: projetar jardins como quem pinta um quadro. Ele reunia plantas e flores com cores, texturas e formatos complementares, entremeadas a painéis e esculturas, transformando a paisagem numa obra de arte. A busca pelo aspecto pictórico nas composições era uma das prioridades de Burle Marx, assim como a utilização de espécies nacionais, aponta Haruyoshi Ono, paisagista e diretor do escritório Burle Marx & Cia.



Convidamos você para o próximo artigo onde serão abordadas alguns projetos de Burle Marx, não deixe de ler.

Rômulo Cavalcanti Braga é paisagista
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